Terceira Lei de Isaac Newton
- André Luis Mazzoli
- 7 de nov. de 2020
- 2 min de leitura
Atualizado: 27 de nov. de 2020
Minha mãe nunca ortogou regalias aos homens de casa pelo simples fato de termos pênis. Era uma casa viking. Fazíamos do jeito que sabíamos. E foi um erro não nos julgar ou criticar pelo modo que era feito. Contudo, fazíamos. Todos em casa tínhamos nossos privilégios, assim como nossos preceitos. E a regra que valia para um, valia para todos. Isso nos concedeu caráter e o indistinção. Não apenas para não diferenciarmos homens de mulheres, mas para que entendamos que antes de sermos mulheres, negros, gordos, judeus, gays, pobres, analfabetos, nerds, bipolares (e por aí vai) somos humanos. E isso está tão arraigado em nosso gênese, que nem percebemos. E sabe o que isso quer dizer? Quer dizer "sim". Você, em algum momento da vida, já foi preconceituoso. Vai dizer que nunca achou que iria ser assaltado ao ver um negro te seguindo ou vindo em sua direção? Ou limitou as capacidades físicas de alguém com sobrepeso? Pode não ter dito. Mas pensou. E isso não te inibi do erro. Palavras intolerantes são como um rottweiler acorrentado: o fato de estar preso não muda o perigo. Tampouco os atributos do pensamento. Tanto, porque, quando solto, dilacera, afronta, ultraja, consterna.
Por incontáveis vezes confundiram minha opção sexual. O quê? Não posso ser sensível ou chorar com um barbeador de três lâminas? Já ouvi rumores de garotas que tinham caidinhas por mim, dizerem que evitaram o flerte por acharem que eu era gay. What The fuck!!! Qual a coibição de conversar?
Ou quando era criança e era o último a ser escolhido para os times de jogos físicos como futebol, basquete, vôlei, queimada, Beth (vocês sabem o que é, né?) por ser gordinho. Porra!!! Só por que eu era gordinho de óculos remendado com fita isolante queria dizer que eu corria menos e não sabia jogar? Sim, é verdade. Mas será que não pensaram que eu, como goleiro, ocupava mais espaço no gol. Ou que ao jogar basquete, vôlei ou Beth saberia calcular a trajetória das bolas com pura matemática?
Já disse isso em outros textos, mas palavras tem poderes latentes. E quando apontamos o dedo pra alguém, há outros três apontando pra nós.
A base da minha índole vieram de mulheres fortes. Minhas professoras, amigas, chefes, escritoras, atrizes, avós, namorada (não, eu não sou gay) e minha mãe. São mulheres que catequizam, instruem, comandam, dirigem e trabalham tão bem como ou quanto qualquer homem que conheço (inclusive eu)
E nesse emaranhado de sentimentos e julgamentos penso que se sou bipolar é porque o mundo me concebeu isso. Visto que o firmamento dissimulado nos conduz a acreditar que está tudo bem. Quando, na verdade, é apenas mais uma patacoada, onde muitos ainda são o que quer que sejamos.
E isso tudo me faz pensar: que mundo quero para minhas filhas.
Em homenagem à Mariana Ferrer e muitas mulheres que conheço.
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