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Submetido a preencher espaços que não existem

  • Foto do escritor: André Luis Mazzoli
    André Luis Mazzoli
  • 1 de dez. de 2020
  • 3 min de leitura

“Os opostos se atraem”. Não me recordo da Lei de atração de Coulomb se corresponder aos relacionamentos amorosos. Mas esta afirmação de base e fundamento filosófico do boteco do seu Tadeu é tão arcaica e mundana que desde pequeno aceitava sua premissa. E entendia que as diferenças entre personalidades se completavam como um jogo de tetris. É obvio que não encontramos pessoas que são 100% similares a nós. Seriam essas pessoas universos paralelos de nós mesmo. Amalgamas em mesmos planos? (nossa! Que canabis estragado foi esse?) Podemos encontrar pessoas muitíssimo parecidas e com gostos bem equivalentes. Porém, idênticas? Impossível. Tanto porque, as vertentes entre essas pessoas são tão gritantes que possivelmente serão o motivo de uma suposta separação. Hey, você que se relaciona com alguém muito parecido contigo: Não estou dizendo que irão se separar. Não seja toupeira! Estou dizendo que pessoas muito afins, que vem a se separar, provavelmente acontece exatamente por causa das poucas diferenças.

E nisso vem aqueles seres (com encéfalo pouco desenvolvido, e muito me assusta que tenha um polegar opositor) dizendo “traí porque não éramos compatíveis”. Isso não é uma questão de conformidade. Traiu porque é um puta escroto idiota. Não acha que tem afinidades? Deixe ir e seja feliz. Pode ter certeza que será menos doloroso. Falo isso por experiência própria. Tanto já chupei dessa bala, como já martirizei alguém. E nem digo que fiz por vingança. Pois, seria tão funesto quanto. Eu trai num rompante imbecil de um primeiro relacionamento, pra somente sentir a pimenta no meu cu no relacionamento seguinte. E quer saber? Realmente não é refresco.

Não vou falar dos meus relacionamentos mais curtos ou as pegadas de apenas uma noite, porque não irão interferir em nada no contexto. Entretanto, pelo fato de eu ser tão afetivo e entrar tão de cabeça numa relação, não me concedeu o discernimento para perceber o quanto diferenças entre personalidades podem ser tóxico. Em algum momento, uma das partes terá de ceder. E este que cede se anula. Passa aceitar o que não quer, muda seu modo de agir, falar, se vestir, ouve outras músicas, assiste outros gêneros, se afasta dos amigos e até da família. Perde-se de si toda a sua concepção de ego, individualidade, originalidade, confiança e liberdade. E quando percebe sua estima já virou petróleo. E para aquele bipolar, inclinado à depressão, como eu, isso pode ser letal. E quase foi mesmo.

Em maio deste ano, eu esfregava minha cara no excremento do fundo frio do poço de meu umbral. Eu entendia que era tudo que restava de mais um relacionamento que se confirmou ao fadado fracasso das diferenças entre pessoas. E, não apenas, passei acreditar que o amor era apenas uma crendice e um embuste; como também acreditava ser merecedor. Eis que, quando eu já não queria mais saber de qualquer proposta do que o nocivo amor poderia me oferecer, no fim de setembro, quase como um imperativo, Dan pediu que provasse de seu amor. Falou-me sobre ele e todas as nuanças de cores que poderia ter. E, obviamente, constatei que tem. O que diferencia são as cores que damos as pinceladas. E quando a aquarela, os pinceis, e o jeito de pintar é o mesmo, não há possibilidade que o quadro não saia lindo. Ao menos a quem pintou.

Isso prova que não são as diferenças que se completam. Nós já somos inteiros e procuramos um contraponto que nos identificamos. Gostamos de rock, filmes de terror, cachorros, cor preta, dias frios e nublados, porta dos fundos, Shows de Stand up, desenhos antigos, fazemos piadas, rimos das próprias desgraças, e das desgraças alheias (claro!), conversamos muito e nos distinguimos. Afinal de contas, ambos somos bipolares. Contagem em 3... 2... 1... “O quê? Como isso pode dar certo? Dois bipolares dentro de um mesmo espaço?” Não se sinta mal. Já ouvi muito isso. E, sinceramente, só exercita minha capacidade intelectual de acionar o sistema de abastecimento do botão “Foda-se!” dentro do meu cérebro. Ela tem sua intensidade nas manias e eu na depressão. Cheguei em sua vida como uma agenda para seus compromissos e controle financeiro, e ela, na minha, como meu red bull de limão. Pela primeira vez na vida me vejo amado por uma mulher que não seja minha mãe ou minhas filhas. E reconheço que ser amado é muito bom... Calma aí! Eu disse “muito bom”? Isso é incrível, é maravilhoso, é fantástico, é fabuloso, é super hiper fabulível master of puppets pica das galáxias.

A bipolaridade não me define e tampouco me deprecia. Pessoas fazem isso. E, sequer acho que posso realmente defini-las como pessoas. Pois encontrei em outra “bipolar” alguém que ajuda a superar todos os dias minha depressão, insônia, tremedeiras, baixa estima, impulsos de euforia e fuga. E eu encontrei nela alguém com quem não quero menos do que passar o resto da vida.

 
 
 

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