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“Pedo mellon a minno”

  • Foto do escritor: André Luis Mazzoli
    André Luis Mazzoli
  • 23 de nov. de 2020
  • 3 min de leitura

Segundo meu amigo Aurélio (parece ambíguo, porém, não real, mas autêntico):

Amigo:

Substantivo masculino

Indivíduo com quem se tem uma relação de amizade, de afeto de companheirismo. Que defende um determinado ponto de vista ou tem admiração por alguém.

Quando eu tinha dez anos, Stephen King me presenteou com um filme chamado “Conta comigo” (Stand by me – 1986). Nele, Gordie Lachance, Chris Chambers, Teddy Duchamp e Vern Tessio saem em uma jornada, no verão de 1959, para encontrarem o corpo de um homem morto acidentalmente. O que eles não sabiam é que o que parecia um simples entretenimento se tornaria uma jornada autognóstica (palavra bonita para definir “autoconhecimento”, que somente usei para deixar o texto mais inventivo). Porém, como, com aquela idade, eu sequer supunha, em qualquer quimera, o que diabos seria autoconhecimento, e por não saber nomear meus sentimentos, foquei naquilo que a premissa do filme poderia oferecer a uma criança da minha idade sem fugir de seu foco; e que é tema desse texto: Amizade.

Naquela época, como meus avós me privavam da rua e, assim, também de amigos, que se limitavam apenas aos colegas de escola. Tive que aprender através da TV o mérito que essa palavra carrega. Assim, a TV me ensinou através de “Goonies”, “Sociedade dos poetas mortos”, “Clube dos cinco”, “Curtindo a vida adoidado”, ou, até mesmo “Um sonho de liberdade” e entre outros, o que essa confraria que, até então, entendia num misto de diversão e segredo* representava. E nisso, caí numa armadilha para ursos. Fiz pactos de sangue onde, aparentemente, apenas eu me flagelava, e, através destas frustrações de amizades, tentei me fechar e isolar. Mas parece que minha personalidade pede abertura e socialização. Quis buscar novas amizades tentando ser mais galhofeiro. Passei a fazer piada sobre tudo. E isso me rendeu mais atenção. E quanto mais eu era visto, mais era satirizado por ser esquisito. E por fim uma caralhada de bullying caia sobre minha cabeça. E onde estavam meus amigos nessa hora? Quanto mais estranho me faziam entender ser, mais meus amigos se afastavam. E por fim, eu acreditava que realmente era inusitado. E a amizade era uma tramoia.

A escola acabou, a faculdade acabou, os estágios acabaram, os trabalhos mudaram, e aqueles que eu entendia como “amigos” também se foram. E de que serve as redes sociais se os conhecidos estão lá apenas para fazer volume? E não falo apenas por mim. Falo por muitos. Inclusive da opinião que muitos tem de mim. Também devo fazer volume em suas redes. Desde a época do “Orkut” amizades se tornaram objetos expostos em estantes.

Durante fases da minha vida fui antagonista dos excrementos mais escrotos imagináveis. Fiz coisas que não me orgulho. Tampouco, tiram-me o sono. Pedrinho não vai barrar meu pedágio na entrada do céu porque amarrei uma bomba num rato... Ou acho que não (mas essa é outra história). Das merdas que fiz estava rodeado por parasitas da desgraça mundana que se alimentam de pequenos dejetos do caos, sujeitando a indevidos risos de deboche e possibilidade de ser cada vez mais idiota. Porém, quando uma rodinha do trem saí dos trilhos, todos os passageiros se jogam, e você se vê sozinho numa máquina gigante incontrolável prestes a causar uma merda que até Nostradamus ficaria espantado.

Demorei a restabelecer o conceito de “amizade”. As minhas definições foram atualizadas. Todo aquele leque que eu achava ser amigos foram acabando gradativamente. Ou quase se dissiparam. Passaram a serem colegas, ou, simplesmente, conhecidos. Os momentos continuam guardados em meu arquivo morto. Mas não carrego mais um compilado de pessoas. Guardo instantes e fases. E a bipolaridade pode outorgar-me ainda mais o podar desta árvore sem frutos. De pessoas que fingiam confiar em mim a aqueles que dizem acreditar na minha vitória, mas não reconhecem o valor de minhas cicatrizes.

Entre aqueles que me compreendem, e não apenas querem me ver bem, mas também, interpretam (por favor, concedam-me isso), confiam, torcem a favor e ajudam. Às outras pessoas, não guardo rancor. Mas, não espero mais do que devo. Não sou um boneco de gelo sem coração. Na verdade estou longe disso. Entretanto, tornei-me mais cético e seletivo na patente dos meus verdadeiros amigos.


*Forte abraço Atecubanos

 
 
 

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