Quando a luz amarela acende
- André Luis Mazzoli
- 3 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Anualmente, o Brasil é acometido por números alarmantes de suicídios. Conforme a Organização Mundial da Saúde (OMS), dentre 195 países que compõe o planeta, o Brasil é o oitavo país com o maior número suicídios. Fica atrás apenas da Índia, China, Estados Unidos, Rússia, Japão, Coreia do Sul e Paquistão.
Nisso, de frente com o aumento de mais de 30% da taxa em 30 anos, registrando 12 mil atos anualmente e mais de um milhão no mundo, a Associação Brasileira de Psiquiatria (ABP) em cooperação com o Conselho Federal de Medicina (CFM) instituiu em 2014, no mês do “Dia Mundial a Prevenção ao Suicídio” (10/09) o Setembro Amarelo.
E abordando este tema tão importante, no propósito de conscientizar, e aproveitando o ensejo, quero falar sobre um filme, de 1993, chamado “Mr Jones”. Lembrando que para aqueles que não gostam de tomar spoiler na cara esse é o momento.
Jones (Richard Gere) é um paciente que é internado num hospital psiquiátrico, após subir no telhado de uma construção na alusão de que iria voar. A princípio, é diagnosticado com esquizofrenia paranoica, mas, em terapia com a Dra Elizabeth Bowen (Lena Olin) é rediagnosticado com psicose-maníaco depressivo, ou bem familiarizado por nós, como Transtorno Bipolar.
Entre seus sintomas (e posso dizer até

bastante familiares) apresentavam um homem facilmente disperso, com humor oscilante, gastos compulsivos, pensamentos aleatórios, entre outros. Contudo, muito inteligente, com facilidade com cálculos matemáticos, aptidão para a música, carpintaria e mecânica. Um homem charmoso, sedutor e eloquente que faz amizades com facilidade. Entretanto com índole que consente saltos da confiança de um homem poderoso a uma criança.
Em meio a uma segunda internação, por tentar reger uma sinfonia de Beethoven no meio da orquestra para uma plateia esnobe (Olha a ideia! É um filme repleto de vergonhas alheias) rejeita as medicações baseado na convicção de que não está desorientado. E nisso, por mais que esteja sempre no ritmo de “I got you (I feel Good)” de James Brown, vem a fase mais destrutiva e depressiva de Jones. Pois, está sozinho e sem saber como cuidar de si. E nisso, permite-se cuidados atribuídos pela clínica.
O filme é bem incisivo na relação com a forma como a sociedade e, até mesmo a família, interpreta suas relações, e a falta de desvelo com doentes psicológicos. Concede uma réplica interna sobre nossa postura e a uma visão humana sobre deprimidos, esquizofrênicos, bipolares e entre outros psicóticos. E nos faz perguntar: E se fosse você? E se fosse seu filho?
Com um roteiro fechadinho de Eric Roth e Michael Cristofer, e direção de Mike Figgis, “Mr Jones” é um filme cheio de referências. Soube dar cores tristes e pastéis para retratar a vida de Jones, ou jogar a 9ª Sinfonia de Beethoven (Ode a Alegria) pra enganar suas dores que são maiores que seus sintomas. E por fim, num filme onde, somente sabemos esperar uma possível morte, nada melhor que a romantização, e a sensibilidade entre os protagonistas para mostrar a necessidade do amor e da cumplicidade. Certamente há feridas que, habilmente inibido pelo roteiro, não são apontados nitidamente, visto o preconceito que existe dentro de cada um de nós.
O filme, bem diferente do apresentado na semana passada (Por lugares incríveis), é muito autêntico, seguro do que está sendo mostrado, sem intento de compadecer somente pra ser um filminho de lagrimas, com atuações e uma química in-crí-vel entre Gere e Olin, e, acima de tudo instrutivo. Mostra a importância da medicação e da terapia, e como o suicídio pode ser destrutivo para todos.
Nota do Famigerado: 7.1
Comments