top of page

O médico, o monstro e uma porta

  • Foto do escritor: André Luis Mazzoli
    André Luis Mazzoli
  • 16 de jul. de 2020
  • 2 min de leitura

Atualizado: 17 de jul. de 2020

Dr. Henry Jekill acreditava que era possível inibir o lado ruim de cada pessoa quimicamente. Contudo, ao testar sua fórmula em si, alimentou seu alter ego que dentro existia. Sr. Hyde era tudo o que Jekill não queria ser. Mas ambos continuavam lá e se toleravam.

Existe um Sr. Hyde dentro de mim. Um semblante sem carisma, de boca murcha e testa enrugada, sem autoestima, feroz, atroz, covarde e por vezes alternava entre o metódico cruel e o estúpido que se acha apto a enganar a todos. Quando as portas dentro da minha cabeça estão fechadas ele grita: "Hey, ente medíocre, me deixe sair!” ou "Deixe-me tomar conta disso, você não sabe lidar com essa conjunção"... E eu deixo.

E quando ele vem, todo imponente de si, armado com atos e palavras. Palavras que ferem tanto quanto os atos.

Eu sinto a angústia do sentimento que ele traz quando não consigo segurá-lo. Apatia por todos, inclusive aos mais próximos. Tremedeira, impulsividade, movimentos involuntários das mãos, formigamento dos pés, dificuldade de concentração, celetista do achar ser importante ou não e desmedido sentimento de mágoa, melancolia e alto piedade.

Mas quando é colocado contra a parede, se inibe, reabre a porta e se acomoda dentro novamente. Guardado, outra vez, na parte sub psíquica do meu cérebro. Deixa-me exposto para ser o desequilibrado. E eu vejo novamente o mundo deixado por ele na ótica de Edvard Munch, colhendo corpos, cacos e sentimentos destruídos.

Ele quer que eu acredite que não somos doentes, que não temos perturbações, que por mais que discordemos estamos em sintonia. E por isso, temeroso às medicações que o contem.

Sinto-me a mercê de alguém que mora comigo e não conheço. É como um cachorro de estimação que dorme dentro de casa. Quando acordo pela manhã, encontro um coco no tapete. Eu posso até tentar limpar, mas o cheiro ruim ficará lá por um bom tempo. E por mais que eu negue, como a casa é minha o tapete cagado também sempre será meu.

Mas no contar dos ovos, será que não seria ele o piloto e eu apenas um copiloto?



 
 
 

Bình luận


bottom of page