Hieroglifos
- André Luis Mazzoli
- 18 de jul. de 2020
- 1 min de leitura
Não lembro muita coisa do casamento da minha mãe com meu pai. Ouvi durante a vida versões vertentes de ambas as partes sobre um casamento fracassado. Atualmente, parece até normal amiguinhos de escola terem pais separados. E o casamento que era algo rijo, tornou-se um produto quebrado. Da ruptura, minha mãe ficou sem os filhos, e rancoroso, meu pai não abriu mão da guarda. Todavia, não quis abraçar a responsabilidade de criar-nos. Ou seja, fomos criados por meus avós. Éramos órfãos de um pai vivo.
Nessa transição, saímos de Brasília, abandonamos nossa rotina e adaptamo-nos a uma nova praxe.
Tivemos que nos adequar uma vida mais cheia de luxos e mimos, mas introvertida. São antônimos que mexem com o psicológico. Aquele contato que tínhamos com primos e amigos, ficaram restritos aos dias de escola. E o contato que tínhamos com o mundo agora era expresso apenas pela TV e por pessoas e situações fictícias.
A primeira série do ensino fundamental foi traumática. Não conseguia me adaptar à escola. Doutor Antenor Soares Gandra era uma escola pública grande capaz de causar inveja a muitas escolas particulares. Ainda assim não conseguia me adaptar tanto a escola como à turma e tampouco fazer amigos. E é claro que não posso culpar a professora Jaqueline pelo meu fracasso. A repercussão não poderia ser diferente. Reprovei a primeira série. Ao mesmo tempo descobri que tinha desenvolvido uma dislexia grau leve. Não entendia o que eu mesmo escrevia. Adotamos um caderno de caligrafia que me ensinou a desenhar o que escrevia. E ainda hoje desenho.
Isso evidência como a cabeça de uma criança é facilmente engendrada por situações que futuramente se tornarão gatilhos.
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