top of page

E eis que surge a Phobophobia

  • Foto do escritor: André Luis Mazzoli
    André Luis Mazzoli
  • 22 de set. de 2020
  • 4 min de leitura

Após um ano da confirmação de meu diagnóstico, meu psiquiatra suspendeu boa parte de meus medicamentos. Manteve apenas os primordiais. Nessa leva estava o Zoloft. Que, pra mim, era um dos primordiais. Pois, até então, não conseguia dormir senão medicado. Até tentei argumentar, mas a melhor e única resposta que me deu foi "se vira! Há inúmeros métodos pra dormir que você encontra no Google!". Nisso, por indicação de uma psicóloga que me atendeu por um curto tempo, eu deveria testar o método do marinheiro (que não vou explicar, mas já adianto que comigo não deu certo) e o método de sons que acho agradáveis. Eu tinha três opções: o relógio, a goteira ou a chuva. Primeiramente achei Crying in the rain" do A-ha, que obviamente tive que ouvir; em seguida encontrei oito horas de chuva e trovões. Eu não sei se Arquimedes tinha prolemas com insonia, mas: Eureca! Consegui dormir as oito horas. Foi ótimo... pelo menos por um tempo.

Há uns três dias não tenho conseguido dormir direito. Parece que os sons da chuva não tem efeito contínuo como nas noites anteriores. Pelo menos três vezes acordo no meio delas. Optei por outros vídeos no youtube. E admito que fiquei impressionado com a quantidade de opções de sons de chuva que encontrei. Em um programa que baixei, encontrei opções como sons de chuva forte, normal, no telhado, no gramado, durante o dia, à noite, e até no mar, acompanhado por sapos, grilos, corujas (todo um safári). Mas nada tem dado muito certo.

Certa vez, uma pessoa me cobrou que eu esmiuçasse dentro do meu cérebro respostas de porque não consigo dormir. Pois quando não durmo fico displicente, perco a paciência tanto com coisas grandes como com coisas pequenas, perco a vontade de coisas rotineiras tanto em casa como no trabalho. E quando isso afeta meu dia, afeta todos que convivem comigo. Sei da importância de estarmos atentos às mudanças e debatermos quando essas coisas acontecem. Mas eu simplesmente acho um saco falarmos sobre isso. Eu me sinto ainda mais debilitado.

Quando busco por respostas dentro da minha cabeça encontro minha insegurança quanto a desemprego, o aparente, mas disfarçado, cenário que remete minha condição com a minha filha mais velha que está entrando na adolescência. Além dos problemas que não são meus, mas insisto em levá-los pra casa.

Medo!

Como uma palavra tão pequena pode ser aparentemente tão nociva. Afinal de contas, até mesmo os mais destemidos tem medo de algo. Pesquisando no Google descobri uma lista com mais de 100 medos. Uma relação que vai desde a comum tanatofobia (medo da morte) a ridícula alectorofobia (medo de galinhas) ou Hipopotomonstrosesquipedaliofobia (medo de palavras longas (Não vou nem comentar)). Quando eu era bem pequeno meu tio me mostrou que filmes com casas assombradas, sangue e vísceras jorrando era algo divertido. Ainda que existam pessoas que ficam com medo só de lerem a sinopse ou assistirem o trailer, eu simplesmente amava os filmes de terror. O que eu ainda não entendia era o que existia por trás do impulso aparentemente incoerente que me permitiam levar sustos. Foram necessários inúmeros sobressaltos, facadas, decapitações e criaturas sobrenaturais para entender que o terror limitado na ficção ajuda a vivenciar sensações inexistentes em outro lugar. Ou pelo menos, era o que eu acreditava. Segundo a socióloga Margee Kerr “O segredo está no controle”. Ou seja, Em todos os momentos que o cérebro humano experimenta o medo numa esfera imune de qualquer perigo, seja ficção, ou numa interpretação no mínimo questionável de fatos, a sensação é agradável. Quer saber se eu não sentia medo? Muitíssimo pelo contrário. Eu sentia tanto medo quanto às outras pessoas que não gostam do gênero. E ainda assim optava, e prefiro até hoje assistir os filmes sozinho. O grande diferencial é que eu aprendi a antecipar um suposto roteiro da trama que me preparava para o susto e para o fim do susto. E isso gerava uma sensação de alívio e deleitamento. E a maior satisfação estava quando o susto era imprevisível (O que, infelizmente, não acontece com filmes de roteiro fraco. Não é mesmo, James Wan?). Nisso, meu cérebro foi me treinando para sustos que eram fazíveis. Tais como ser assaltado ou animais peçonhentos. Contudo, ainda assim, como uma pessoa "normal", tenho minhas fobias. Bem como dirigir, que algo aconteça com minhas filhas ou simplesmente passar algum constrangimento em público.

Por mais que eu aparente ser uma pessoa perversa e, às vezes, sem sentimento, não costumo ter intenção de magoar ninguém. Não sei se é porque não sei me impor. E mesmo se soubesse não saberia o que realmente quero pra minha vida. Não sinto ter sonhos ou ambições. Que são exatamente coisas que, pessoas que me querem bem, reivindicam de mim. Não como uma ditadores nazistas, mas como alguém que realmente quer que eu cresça. Todavia, aquele outro cara dentro de mim, não quer nenhum tipo de interferência de ninguém na "nossa" vida. E nessa hora... Blackout.

Meu ego inflamado não permite que eu assimile informações ou orientações de como as coisas devem ser feitas, prazos, datas, nomes ou qualquer lista. E depois que todo aquele amontoado de excremento esta sentado no meu colo, me abraçando e me chamando de papai, já é tarde para jogá-lo privada abaixo. Eis então que surge aquele que não apenas não aceita estar errado, como também fica emburrado ao receber uma crítica obviamente construtiva. E todo esse conjunto de características, lamentavelmente, não posso chamar de outro nome senão "eu".

E enquanto coloco meus fones de ouvido, deito minha cabeça no travesseiro, uma voz dentro da minha cabeça diz: E ai? Já dormiu? Eu não quero te incomodar, mas, o que foi mesmo aquilo que você fez hoje?... Isso pode não ser muito pra você. Mas, pra mim, são proporções desastrosas, com escala Richter de 10 graus. E então, novamente não durmo e um buraco de minhoca me joga num espaço-tempo, para onde tudo começa.

 
 
 

ความคิดเห็น


bottom of page