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“Coisas belas não precisam pedir atenção”

  • Foto do escritor: André Luis Mazzoli
    André Luis Mazzoli
  • 9 de out. de 2020
  • 3 min de leitura

Após um típico dia de uma equação de traçado demoniaco de Cortezano, 88, vinho e Ballantines, que resultou numa manhã de depressão+ressaca+gosto de lambida no alfalto+ ódio do mundo²; meu irmão me ofereceu duas experiencias. 1) eu deveria jogar um game chamado “Journey”. E foi incrível. Mas essa é outra história. 2) Naquela mesma tarde, ele pediu que eu assistisse um filme chamado “A vida secreta de Walter Mitty”. Que até então era desconhecido por mim.

Ao começar, deparei-me com o mesmo pré-conceito que abomino das pessoas que ficam apontando o dedo indicador ao que desconhecem. Pois até então, pra mim, o filme era apenas mais um pastelão dos peculiares filmes do Bem Stiller (que pra piorar, dessa vez ele, não apenas atua, como também dirige). E, neste caso, como é saboroso o gosto de pagar com a língua.

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Queria deixar isso para o final, mas,“A Vida Secreta de Walter Mitty” (The Secret Life of Walter Mitty) apresenta qualidades que dificilmente são vistas juntas numa mesma obra. Ele é simplesmente fascinante, agradável e inventivo. Nele é contada a história de Walter Mitty (Vocês não esperavam outra coisa, né?), um funcionário incubido do arquivo e revelações de negativos da revista “Life”, que recebem a notícia de que a empresa irá fechar a versão impressa, mantendo-se, apenas, em seus conteúdos para a internet. Para sua capa derradeira será usada a foto de Seal O’Connell (o fotografo de maravilhas interpretado por Sean Penn). Contudo, a foto misteriosamente se perdeu dos arquivos de Mitty. E nisso, iniciasse uma busca por vários lugares pela fotografia ou pelo fotógrafo, através de uma investigação de poucas pistas.

A princípio, o receptor entende que o filme não conseguirá se livrar de mais um filme de comédia. Ou, até mesmo se perde em várias imagens bonitas e motivacionais de “bom dia” em grupos de whatsapp. Todavia, para entender a complexidade dele, primeiramente precisa se entregar a premissa. Não é porque o filme é ficticio e apresenta trechos de comédia que nossas vidas não podem também serem engraçadas. E há aqueles que se incomodam pelo fato do filme apresentar muitas propagandas. Mas, cargas d’água caro leitor, o filme se trata de um funcionário de uma empresa obviamente publicitária. O que esperava?

Mas vamos falar de Walter Mitty. Por que ele é tão importante para o conceito da bipolaridade? Por mais que seja um sujeito pacato, o personagem de Stiller é cheio de camadas de uma cebola. Não é difícil se adapatar ao jeito carismático. Ele é uma pessoa normal, como todos nós; e com problemas, também como todos nós. Domina seu trabalho com dedicação, mas é acomodado e indiferente. Ou simplesmente, não demonstra ambições. Sua vida é tão sem encantos que sequer consegue preencher seu cadastro no site de relacionamentos. Porém, sua vida imaginária é completamente diferente. Tanto que, por vezes, se desprende de sua vida concreta para viagens dentro da cabeça. E isso é mostrado de forma magistral dentro do filme.

É claro que também não dá pra falar da concepção sem falar do design de produção que oscila junto do personagem com suas emoções estampadas na paleta e cores. E quando conseguimos submergir ao filme é gostoso viajar essas transições de humor de Mitt. Não é um filme difícil. Mas é um filme que necessita interação e cumplicidade. Deixar-se permitir pela avetura como se o protagonista fosse você. E como se os problemas dele fossem seus. E quando a climax acontece, cheio de suas belas fotografias, oceanos, vulcões em erupção, tubarões, cordilheiras, alpes nevascos, a vitória também é sua. Então seria iniquo da minha parte não dizer que o filme é muita emotivo. Aliás, os últimos minutinhos desses filme trazem o final mais incrivelmente sentimental e cheio de mensagens que já vi.

Posso dizer que “A vida secreta de Walter Mitt” mudou minha vida. Por incontáveis vezes, por momentos de tristeza, fuga ou simplesmente criatividade; conseguia viajar por lugares que eu sequer conhecia. Unicamente para não estar onde eu estava. Acredito que as fugas que aconteciam dentro de minha cabeça, facilitaram para o desenvolvimento da doença. Mas isso me fez mais preparado para possíveis situações e pessoas. Contudo, hoje não preciso mais delas. Claro que existem meus dias de oscilação. Mas boa parte deles são de alegria. E agradeço muito aqueles que fazem parte dessa trajetória. Os que foram, os que estão e os que estão batendo na porta para entrar (por favor, limpem os pés. Estou limpando a casa)

Nota do famigerado: 9.7

 
 
 

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