top of page

Chorando de rir

  • Foto do escritor: André Luis Mazzoli
    André Luis Mazzoli
  • 10 de set. de 2020
  • 3 min de leitura

Pra mim filmes de comédia sempre foram muito fortuitos. Como preso muito pelo roteiro, não é qualquer um que cai no meu agrado. Diverti-me muito, e mais de uma vez com filmes, com filmes como “Máfia no divã”, “melhor é impossível”, “Beijos e tiros”, “Alguém tem que ceder”, ou “A mentira”. E se percebeu, não são atores pastelões que chamam minha atenção. São divertidos? São! Mas eu me divirto muito mais com um filme protagonizados por Mel Gibson do que Adam Sandler. Contudo, ainda quando criança, meu pai me colocou pra assistir um filme, de 1961, chamado “O terror das mulheres”. E nisso descobri aquele que chamavam “O rei da comédia”. E é incontestável que Jerry Lewis era realmente fenomenal e, pra mim, o maior ícone cômico. Ele cantava, dançava, dramatizava, fazia caretas que não me fazia sentir um idiota. É um gênio inegável de fazer rir. E fico feliz de ter dedicado tantas e tantas horas a ele.

Em 20 de agosto de 2017, Jerry nos deixou órfãos. E, em seu perfil no Twitter, Jim Carrey disse: “Aquele bobo não era um tolo. Jerry Lewis era um gênio inegável e uma bênção incomensurável, absoluto da comédia! Eu sou porque ele era!”. E nisso, em 1994, após anos sem um comediante para representá-lo, Jim lançou três filmes que hoje são clássicos da comédia (“Ace Ventura - Um Detetive diferente”, “O Máskara” e “Debi & Lóide - Dois Idiotas em Apuros”). É óbvio que são filmes sem o refinamento da assinatura de Lewis. Mas Carrey mostrou-me, através de pastelões, novamente, como um filme de comédia pode ser divertido.

Apesar de distintamente ser um ator que se destacou na comédia com suas versatilidades em caras e bocas (até porque, com apenas dez anos já enviava seus résumés ao The Carol Burnett Show), soube prosperar em filmes de drama, suspense, aventura, dublador, diretor, produtor, escritor, cartunista e não parou mais. Todavia, em 2004, durante uma entrevista à CBS News revelou ter depressão. “Há picos e vales, mas eles são sempre cavados e suavizados para que você sinta um permanente desespero e fique sem respostas, mesmo que viva bem” e “Você consegue sorrir quando está no trabalho, mas continua em um baixo nível de aflição”.

Claro que é imperícia das pessoas falarem da depressão ou de quem as acomete, sem saber de que realmente se trata. Entretanto, tanto quanto desconhecimento é uma banalidade prejulgarmo-nos como pessoas acamadas, que apenas sabem se queixar do mundo, chorando, sem conseguir fazer nada e querendo o aviso prévio da vida (como se tivéssemos opção). Temos direitos e deveres como todos. Queremos estudar, trabalhar, nos apaixonar, dirigir, e pedir um hambúrguer na lanchonete da esquina como qualquer outro. E Jim é um espécime deste produto. Pois, com mais de 30 anos de carreira, teve que continuar a trabalhar conservando está tão feiticeira cordura para o riso, mesmo quando não quer rir.

Em 2000, senti-me identificado pelo humor negro apresentado pela 20th Century Fox em “Eu, eu mesmo & Irene” (Me, Myself & Irene). Confesso que dei panes de riso com a estória do benévolo Charlie Bailegaytes (Jim Carrey), um pacato policial que acaba criando os três filhos frutos da prevaricação da ex-mulher com um anão. A afronta aos seus princípios, por parte de toda a cidade de Rhode Island, fez com que Charlie, através de um rompante de uma esquizofrenia com ira inconsciente, ou Transtorno dissociativo de identidade (TDI), ou, para os mais íntimos, síndrome de dupla personalidade, manifestasse Hank Evans, uma versão guardada de todos seus impulsos secretos e negativos de Charlie (Assim como fez em “O Maskara”). Com o decorrer da trama, ambos se apaixonam por Irene e tentam conquistá-la. Claro, que cada um a seu jeito.

Porém, por que achei tão importante falar dessa sátira non sense ao clássico “O médico e o monstro”? Exatamente porque em pleno cume de sua doença, a meu ver, Jim apresenta um personagem engraçadíssimo, carismático, com um desempenho de encher os olhos. Detalhe: Com depressão!!!

A depressão de Jim Carrey realça que o através do tratamento apropriado e sabendo identificar, interpretar e lidar com os sinais é possível controlar a doença e dar continuidade a qualidade de vida. É óbvio que sozinho não se vai longe. Deve haver apoio da família, amigos e auxílio médico especializado. Assim, também, como terapia, exercícios, alimentação e, se preciso, medicação.

Por fim, obrigado Jim.

Nota do famigerado: 9,3

 
 
 

Comments


bottom of page