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Aparentemente inofensivo

  • Foto do escritor: André Luis Mazzoli
    André Luis Mazzoli
  • 27 de ago. de 2020
  • 3 min de leitura

Atualizado: 2 de set. de 2020

Em fevereiro de 2020, a Netflix colocou em seu catálogo um filme chamado “Por lugares incríveis” (All the Bright places)(Também não entendo esse povo que traduzem o nome dos filmes). Bem, na direção de Brett Haley, e com roteiro assinado por Jennier Niven (que também é a autora do livro) e Liz Hannah, apresentam um drama romântico clichê adolescente. E é tão clichê, que chega ser despreocupante lançar qualquer tipo de spoiler. Pois o filme é muitíssimo previsível. Então, caso ainda queira assistir o filme antes de qualquer avaliação, a hora é essa.

Quando o assisti em junho deste ano, tive o ensejo de abrir a porta adolescente dentro meu cérebro pra poder apreciá-lo (O que não é muito difícil). E até confesso que consegui contemplá-lo. Contudo, para escrever está critica tive que revê-lo. E nisso aquela mesma porta já não abria mais. E, venturosamente, pude fazer considerações diferentes. Aliás, bem diferentes.

No filme, Theodore Finch (Justice Smith) e Violet Markey (Elle Fanning) são jovens de Indiana que carregam chagas emocionais de tragédias do passado, que se aproximam por motivos insólitos e com o tempo aprendem a se ajudar e se apaixonam. A premissa, a princípio, parece bem familiar, exatamente porque John Green e Nicholas Sparks abarrotaram o gênero na última década. Todavia, quando contemplamos com mais cautela, percebemos que o filme tenta ser mais. E esse é o tiro no pé de Jennier Niven. Eu não li o livro, então não sei se nas páginas o roteiro teve êxito. Contudo, dentro de um filme de 108 minutos, colocar temas como suicídio, bullying, depressão, bulimia, abuso físico, rejeição, automutilação, não saber se amar e transtornos e transtornos fez uma verdadeira maçaroca. O tema é ótimo para os publico teen, mas, Liz Hannah como uma roteirista com mais bagagem, deveria ter alertado os produtores que o roteiro estava abandonando um projeto com mais potencial. Entretanto, o que algumas carinhas de Benjamin Franklin não podem fazer? E por fim, Brett Haley também se perdeu. Talvez, a intensão dele tenha sido dar uma god-vibe a um filme que clamava pra ser diferente. E esse foi o segundo tiro no pé. Eles construíram personagens com muitíssimo potencial, mas que foram mal aproveitados. Nem pareciam que pertenciam ao mesmo filme.

Quando o filme já estava com mais da metade, nós estávamos submersos na história, e os personagens parece que ainda pediam por desenvolvimento. Eles até tinham química, mas, quando entrávamos na trama do “freak” Finch, o diretor nos arremessava direto para a “deprê” Violet. E ficamos: Calma aí! Como assim? A história dos dois deveria ter sido mais desenvolvida entre os dois. Afinal de contas, quando estamos nos afogando em desventuras e perturbações, uma mão estendida, sem julgamentos, é muito bem vinda.

É nítido que o filme tem um publico foco, que é o adolescente. Os produtores devem estar lúcidos de suas responsabilidades ao apresentar um longa para pessoas que ainda estão com suas personalidades em desenvolvimento. É evidente que quando assistimos “Vingadores” não saímos do cinema pensando que seremos fortes como Steve Rogers. Mas, adolescentes com traumas profundos, podem ser encontrados em qualquer esquina. É muito fácil um jovem se simpatizar por Theodore Finch. Porque ele é muito carismático e nos envolve com destreza. Ao ver seu desfecho, o jovem pode pensar que aquele pode ser o desfecho dele também, visto que apresenta problemas similares. E depois de Thirteen Reasons Why a Netflix já deveria ter aprendido.

Por mais que Finch seja aquele garoto que quer colocar Violet pra cima, por dentro ele está em conflitos constantes. Por fora apresenta sorrisos que camuflam a sua tristeza interna. É como se ele quisesse a felicidade de Violet para senti-la de tabela. Casos assim aconteceram com celebridades como Jim Carrey, Stephen Fry e Robin Williams. O diretor poderia ter explorado mais os Post its pregados nas paredes do quarto de Finch. Explicar o porquê das cores e o que cada um representava. O roteiro desenvolveu muito rápido, sem preocupações. E ficou simplesmente muito jogado. As pessoas que se identificam com os problemas, tanto de Finch, como de Violet, ou até de seus parentes, esperavam por um auxílio. E, infelizmente, não apenas, o auxílio não veio, como também, o máximo que encontraram foram possibilidades de novos problemas se potencializarem. Assim como Virginia Woolf é citada no filme, é também um arquétipo para a morte de Finch. Quais são as possibilidades de Finch também incentivar novos suicidas?

Nota do famigerado: 5.7

 
 
 

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