Alho, sal e Expectro Patronum
- André Luis Mazzoli
- 17 de jul. de 2020
- 2 min de leitura
Em 2001 estreava nos cinemas Harry Potter e a pedra filosofal. Até então eu nunca tinha sequer ouvido falar em J.K. Rowling. Na época eu trabalhava numa grande empresa de roupas de um recém-shopping inaugurado na cidade.
E no dia da estreia eu estava saindo do shopping pra almoçar no supermercado que ficava ao lado, quando me deparei com uma multidão de religioso fervorosos em frente à porta do shopping, erguendo faixas, cartazes e vozes prevenindo as pessoas para que não assistissem o tal filme. Pois era obra demoníaca. Um elefante pintado com a bandeira de Pernambuco teria passado despercebido ao lado deles. E no ápice daquele momento palavras que vinham do meu âmago diziam: “Eu... simplesmente... preciso ver esse filme”. E não deu outra. Naquele mesmo dia, saí mais cedo e fui sozinho no cinema. E quer saber? Não entendi todo aquele alvoroço que fizeram na frente do shopping.
Tanto que no dia seguinte nem mesmo estavam mais lá.
Desde então peguei os livros emprestados e comecei a acompanhar. Queria que não fosse tão trivial. Mas não há outra forma melhor de me expressar: Os livros são muito melhores que os filmes. Mas nem por isso estou tirando os méritos dos filmes, que também acho muito bons. Li todos os livros e assisti aos filmes no cinema.
No ano de 2007, lançou o quinto filme da saga. E naquela época eu já era tão fã que havia até mesmo comprado o álbum de figurinhas. E quase completei. Um dia eu estava saindo do trabalho em direção à faculdade e parei numa banca de revistas pra comprar alguns pacotinhos. Quando entrei na banca fiquei cismado se havia entrado no local certo. Pois, por fora tinha cara de banca. Revistas, jornais e gibis expostos e até placa de banca. Mas por dentro, parecia um centro de umbanda. Colares, estátuas, e outras coisas que posso dizer que me deixaram inquietante. Quase até pedi informação pra uma estátua de preto velho que estava lá dentro.
Paguei os pacotes de figurinhas e enquanto a atendente foi buscar o troco, me deparei com um vidro redondo transparente com sal grosso até a boca e sobre o sal uma cabeça de alho.
Quando a atendente voltou perguntei:
- pra que serve isso?
- É sal grosso com alho. Serve pra filtrar todo olho gordo que entra aqui. Igual esse que você transmite.
Assustado, peguei o dinheiro e fui embora sem conseguir proferir sequer uma única palavra.
Depois que contei isso a minha mãe, ela fez um em casa também. Eu não sei exatamente como o filtro funciona. Mas lá em casa o sal virou uma pedra e se fundiu ao alho. Mas quem sou eu pra levar a sério os poderes sobrenaturais do alho com sal grosso quando sequer me preocupo com a galinha preta sentada na encruzilhada?
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