
"Eu comecei uma piada que fez o mundo inteiro chorar. Mas eu não vi que a piada era eu”.
Bee Gees - Started a Joke
Queria eu que quando escrevesse algo, durasse um período suficiente para mensurar o que está sendo dito, para quem está sendo dito e como isso repercutirá. Queria poder contar a vocês algo do tipo "duendes saltitantes que indicam o caminho aos potes de ouro no final do arco-íris". Mas não é este o caso. Parece um descomedimento, mas, uma pontuação errada pode devastar vidas. As palavras precisam de cuidados esmiuçados. Elas têm poderes latentes. A leveza dissimulada e a força de uma tormenta. E certamente não há outra pessoa melhor a relatar o ponto de vista de nossas vidas que nós mesmos. Algumas vezes são apenas lembranças ou flashes. Outras, apenas pensamentos, ou reflexões de algo que relativamente é ou acreditamos que seja.
Às vezes flagro-me acreditar que realmente sou mentalmente debilitado. Pois ainda havia um resíduo de esperança. E isso, longe de todo e qualquer empirismo, conduz-me achar que outras pessoas, são insalubres também. Teorizo fundamentos absolutamente subjetivos sobre depressivos, bipolares, esquizofrênicos, com seus estresses, seus traumas, complexos, fobias, síndromes, gatilhos, manias, que, a meu ver, deveriam me trazer um mundo mais habitual.
Ironizo pessoas e situações que não havia graça desde a primeira palavra. Nessas horas não sei se o teor dos risos daqueles que se deixam conduzir é produto da piada ou de mim. E se sou eu, será que riem do palhaço ou de toda essa ignorância? A anedota, por vezes, realmente foi pra afrontar com toda essa carga de humor lúgubre, cruel e venenosa. E após, me sinto tão pior que tudo. Menor. Como uma piada intencional e ruim contada a milhões de pessoas. Uma piada de Schrödinger. Queria elaborar e saber seguir métodos para ser alguém melhor, e me propor esquemas de esquecer que sou simplesmente eu.
Por vezes, acho que é isso que o mundo quer que eu pense e sinta. Uma hostilidade pelo que as pessoas demonstram ser.
Enxergo-me em Erik Lehnsherr, que vê todas as pessoas potencialmente normais, inaptas a um gene mutante, como uma provável ameaça. E assim, opta por aboli-las a ter de aceitar que ele é a ressalva. Eu sou a ressalva!
Por um período acreditei que não estava apto a relatar o que sinto sobre a relação que existe entre mim e o mundo. Mas este abraço forte da indolência diz-me ao ouvido que o ócio nada mais é quando temos tempo e não queremos mais fazer aquilo que queríamos e não tínhamos tempo. O mais difícil não é escrever muito; mas sim escrever tudo dizendo pouco de forma leal.
Queria que houvesse uma borracha gigante para, de forma integra e livre de qualquer descrença, poder apagar todas as coisas que fizemos errado na vida. Ou talvez for levado ao passado para dizer a mim mesmo: Hey, tem certeza que este é o caminho?
Meu nome é André Mazzoli e tenho Perturbação Afetiva Bipolar (PAB), ou Transtorno Afetivo Bipolar (TAB), ou simplesmente bipolaridade. Sofro de uma desordem mental qualificada oscilação entre os momentos de depressão e a disposição.
Como é bastante comum o portador da bipolaridade ser acometido pela disfunção cognitiva de perda de memória, possivelmente a ordem cronológica dos fatos pode estar meio deturpada. Todavia, há sinceridade em cada palavra e em cada sentimento. Ao menos do que me recordo e acredito ser verdade.
Fui orientado por meu psiquiatra que evitasse ficar pesquisando demais sobre a doença. Contudo, eu precisava me inteirar sobre o que é tudo isso que dita meus dias. Porém, todo material que li e reli sobre o distúrbio, me deparava com inúmeros textos, podcasts e vídeos técnicos, que me deixavam ainda mais perdido. E foi pensando nisso que as próximas páginas foram escritas para que você, que tem os mesmos transtornos que eu, saiba que não está sozinho no mundo.
